Filme: A vida de David Gale
O post de hoje inaugura uma nova categoria no
blog, “Jornalismo”. Nela, terão textos com um olhar jornalístico, voltado mais
para o lado informativo (sim, existem várias vertentes do jornalismo), e também
vai ser um espaço de colaboração. A estreia fica por conta da minha amiga
jornalista, Magu Tavares, que traz uma resenha do filme “A vida de David Gale” e traz uma breve discussão sobre a o
tema central do filma, a pena de morte.
O filme “A Vida de David Gale” é uma ficção que traz à tona a discussão
de um dos temas mais controversos dos direitos humanos, a pena de morte. E por
tratar de tal assunto, esta obra cinematográfica poderia ser classificada como
“baseados em fatos reais”.
O enredo conta a história do professor universitário do Texas, David
Gale, e de sua colega de trabalho, Constance, que juntos lutam pelo princípio
da dignidade da pessoa humana; pelo direito natural a vida e a liberdade; e
levantam a bandeira contra a pena de morte nos Estados Unidos.
Gale se envolve em diversas polêmicas, uma delas é o abuso sexual de uma
estudante universitária, no qual ele é acusado injustamente. Ele perde o cargo
de professor de filosofia; sua esposa pede o divórcio e sai de casa devido a
repercussão do caso; e Gale começa a ficar dependente do álcool. A única pessoa
que fica ao seu lado é Constance. A situação dele fica pior quando ele descobre
que sua única amiga tem câncer e pode morrer a qualquer momento.
Diante tantos problemas, Gale e Constance ficam sem motivação para
continuar vivendo. Determinados idealizam um plano infalível, e fazem da morte
a última tentativa para mostrarem as autoridades e a população como é falho o
sistema judiciário norte americano.
É a partir daí que a narrativa nos envolve ainda mais, porque Constante
é “assassinada” e Gale (que já não tinha bons antecedentes) é acusado e
condenado à morte pelo crime. Ele contrata um advogado criminalista, que não
faz muito esforço para reverter a sentença dada ao professor de filosofia,
acredito que a fama de má índole deste jurista (como foi comentada por um
jornalista “foca” no decorrer do filme) contribuiu para a decisão do poder
judiciário.
Ainda com esperança de limpar seu nome perante a sociedade, Gale apela
para a última voz que a população ouviria, e convida a jornalista conceituada
na mídia do Estado, Elizabeth Bloom, para contar a sua história de vida. Bloom
vai até o presídio do Texas, que muito diferente do Estado Brasileiro, possui
uma estrutura física de segurança exemplar, fica longe da área urbana; os
reeducandos trabalham para preencher o tempo ocioso; e o sistema de revista (a
partir da análise do filme) não expõe ou humilha tanto o visitante, sendo mais
digno.
Gale fala para Bloom tudo o que aconteceu dias antes do crime. Ouvindo o
relato do condenado, a repórter fica intrigada e começa a investigar a
situação. É neste momento que a mídia de uma forma “aceitável” se envolve no
Direito tentando encontrar possíveis falhas na investigação policial. É
quando Bloom descobre que com o intuito de provar para as pessoas porque a pena
de morte deve ser repensada pelas autoridades, Constance havia tirado a própria
vida, sabendo que o amigo seria condenado ao corredor da morte.
Mas, quando Bloom tenta levar esta informação para o poder judiciário,
Gale já havia sido “assassinado” pelo sistema. Com isso, mais uma vez, a mídia
usa da sua influência para expor o caso e mostrar as falhas do sistema,
provando a inocência de Gale e fazendo com que os estadunidenses refletissem
sobre a pena de morte.
Trazendo o tema para os dias
atuais
A representação sobre a pena de morte trazida pelo filme “A vida de
David Gale” evidência de uma forma sutil as falhas do sistema judiciário
norte-americano. E nos faz refletir o porquê este método de penalidade não
funcionaria no Brasil. Segundo a reportagem “As injustiças da justiça brasileira”
veiculada pelo Jornal “O Globo”, a falta de dados oficiais provocadas por
erros dos agentes públicos é vestígio que há vítimas do sistema penal, pessoas
inocentes condenadas injustamente.
Orgão do Ministério da Justiça, o Departamento Penitenciário Nacional (Depen) diz não contar com estudos a respeito de condenados injustamente e sugere uma consulta aos bancos de dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ); já o CNJ afirma não acompanhar esses casos e sugere que o Depen seja procurado. MIRANDA, André; TINOCO, Dandara. As injustiças da justiça brasileira. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/brasil/as-injusticas-da-justica-brasileira-18541969> Acesso em: 14 de junho de 2018
Com base na obra cinematográfica apresentada acima e as informações do
jornal “O Globo”, podemos concluir que não é viável instaurar a sentença de
morte no Brasil, já que ainda é fraco as investigações criminais, e falta o
interesse do Estado em solucionar esta falha. Defeito este inaceitável, porque
ignora um dos mais importantes princípios da Constituição Federal de 1988, a
dignidade da pessoa humana.
As leis brasileiras também positivaram a vida como direito garantido, e
se o Estado sancionar a pena de morte no país estaria sendo contraditório com as
suas normas vigentes, podendo colocar em dúvida a sua soberania.
Como a princípio, o filme ajuda a reafirmar posicionamentos contrários à
pena de morte, e possibilita mudar o pensamento de pessoas com argumentos
favoráveis a esta sentença.
Magu Tavares é jornalista formada pela
Universidade Federal de Ouro Preto. Já exerceu as funções de produtora de
TV, repórter, e diretora de programa de rádio. Tem interesse em produção
de documentários; conteúdo para internet e elaboração de projetos de
comunicação. Ama o jornalismo investigativo. E é apreciadora de boas histórias
e memórias.